“As Musas pertencem originariamente à família das ninfas: são as fontes inspiradoras que comunicam aos homens a faculdade poética e lhes ensinam as divinas cadências. O seu número tem variado bastante segundo os tempos e as localidades; mas primitivamente eram apenas três, Melete (A Meditação), Mneme (A Memória) e Aoide (O Canto). Habitualmente são nove irmãs que Hesíodo diz terem nascido de Zeus e Mnemósina, a Memória.
Na Pieria, Mnemósina, que reinava sobre as colinas de Eleutério, unida ao filho de Crono, deu à luz essas virgens que proporcionam o esquecimento dos males e o fim das dores. Durante nove noites, o prudente Zeus, deitando-se no leito sagrado, dormiu ao lado de Mnemósina, longe de todos os imortais. Um ano depois, tendo as estações e os meses percorrido o seu curso, bem como os dias, Mnemósina deu à luz nove filhas animadas do mesmo espírito, sensíveis ao encanto da música e trazendo no peito um coração isento de inquietações; deu-as à luz perto do pico elevado do nervoso Olimpo no qual elas formam coros brilhantes e possuem pacíficas moradas.
Ao seu lado, postam-se as Carites e o Desejo nos festins, em que a sua boca, expandindo amável harmonia, canta as leis do universo e as respeitáveis funções dos deuses. Orgulhosas da belíssima voz e dos seus divinos concertos, subiram ao Olimpo; a terra negra ecoava-lhes os acordes, e sob os seus pés se erguia um ruído sedutor, enquanto elas rumavam para o autor dos seus dias, o rei do céu, o senhor do trovão e do raio ardente, o qual, poderoso vencedor de seu pai Crono, distribuiu eqüitativamente entre todos os deuses as incumbências e honras. “Eis o que cantavam as Musas moradoras do Olimpo, as nove filhas do grande Zeus, Clio, Euterpe, Talia, Melpômene, Terpsícore, Erato, Polímnia, Urânia e Calíope, a mais poderosa de todas, pois serve de companheira aos veneráveis reis.
Quando as filhas do grande Zeus querem honrar um desses reis, filhos dos céus, mal o vêem nascer derramam-lhe sobre a língua um delicado orvalho, e as palavras lhe fluem da boca como verdadeiro mel. Eis o divino privilégio que as Musas concedem aos mortais.” (Hesíodo).
As Musas eram respeitadíssimas e o talento dos artistas tido como dom das nove irmãs. Nas suas estátuas, liam-se inscrições como a seguinte : “Ó deus, o músico Xenocles mandou erguer-vos esta estátua de mármore, monumento da gratidão. Todos dirão: ‘Na glória que lhe proporcionou o seu tlento, Xenocles não se esqueceu daquelas que o inspiraram’.” (Teócrito).
Após a derrota dos Titãs, os deuses pediram a Zeus que criasse divindades capazes de cantar condignamente a grande vitória dos Olímpicos. Zeus partilhou o leito de Mnemósina durante nove noites consecutivas e, no tempo devido, nasceram as nove musas. Há outras tradições e variantes que fazem delas filhas de Harmonia ou de Urano e Geia, mas essas genealogias remetem direta ou indiretamente a concepções filosóficas sobre a primazia da Música no universo. As musas são apenas as cantoras divinas, cujos coros e hinos alegram o coração de Zeus e de todos os Imortais, já que sua função principal era presidir ao Pensamento sob todas as suas formas: sabedoria, eloqüência, persuasão, história, matemática, astronomia.
Para Hesíodo, são as musas que acompanham os reis e ditam-lhes palavras de persuasão, capazes de serenar as querelas e restabelecer a paz entre os homens. Do mesmo modo, acrescenta o poeta de Ascra, é suficiente que um cantor, um servidor das musas celebre as façanhas dos homens dos passado ou os deuses felizes, para que se esqueçam as inquietações e ninguém mais se lembre de seus sofrimentos.
Havia dois grupos principais de Musas: as da Trácia e as da Beócia. As primeiras, vizinhas do monte Olimpo, são as Piérides; as outras, as da Beócia, habitam o Hélicon e estão mais ligadas a Apolo, que lhe dirige os cantos em torno da fonte de Hipocren, cujas águas favoreciam a inspiração poética.
Embora em Hesíodo já apareçam as nove Musas, esse número variava muito, até que na época clássica seu número, nomes e funções se fixaram: Calíope preside à poesia épica; Clio, à história; Polímnia à retórica; Euterpe, à música; Terpsícore, à dança; Érato, à lírica coral; Melpômene, à tragédia; Talia, à comédia; Urânia, à astronomia.
Atributos das Musas – Para compreendermos as honras que os antigos prestavam às Musas, devemos lembrar-nos de que nas épocas primitivas a poesia é um dos agentes mais poderosos da civilização. A arte representa as Musas sob a forma de jovens cobertas de longas túnicas; usam, às vezes, plumas na cabeça, como recordação da vitória obtida contra as sereias, mulheres-pássaros. As Musas foram sendo, pouco a pouco, caracterizadas por atributos especiais, e a arte reservou a cada uma delas um papel particular.
Clio, a musa da história, está caracterizada pelo rolo que segura.
Calíope preside aos poemas destinados a celebrar heróis. A escultura a representou sentada num rochedo do Parnaso; parece meditar e prepara-se para escrever versos em tabuinhas que segura numa das mãos.
A máscara trágica, a coroa báquica e o coturno de que está calçada Melpômene a dão a reconhecer por musa da tragédia. Usa, às vezes, os atributos de Heracles para exprimir o terror ; a sua coroa báquica lembra que a tragédia foi inventada para celebrar as festas de Baco. Há no Louvre uma estátua colossal de Melpômene que pertence à mais bela época da arte grega.
Terpsícore, Musa da poesia lírica, da dança e dos coros, está habitualmente coroada de louros e toca lira para animar a dança.
A máscara cômica, a coroa de Hera, o cajado de pastor, de que se serviam os atores na antiguidade, o tímpano ou tambor em uso nas festas báquicas são os atributos comuns de Talia, musa da comédia.
Erato é a Musa da poesia amorosa, e em geral empunha uma lira. Tinha Erato grande importância nas festas que se realizavam por ocasião das núpcias.
A Musa que preside à música, Euterpe, empunha uma flauta. Temos no Louvre várias estátuas de Euterpe notáveis. A Musa da música está, por vezes, acompanhada do corvo, ave de Apolo.
Urânia, Musa da astronomia, segura um globo numa das mãos e na outra um rádio, varinha que servia para indicar os sinais vistos no céu.
Polímnia, Musa da eloqüência e da pantomima, está sempre envolta num grande manto e em atitude de meditação. Muitas vezes tem uma coroa de rosas. Uma belíssima estátua do Louvre a mostra apoiada ao rochedo do Parnaso, com a cabeça sustida pelo braço direito. Está figurada na mesma posição num baixo-relevo representando a apoteose de Homero.
Nos monumentos antigos, Apolo aparece freqüentemente como condutor das Musas. Chama-se, então, Musagete, e usa uma longa túnica. Esse tema agradava bastante aos artistas da Renascença, que o representaram com freqüência. O belo quadro de Mantegna, que o catálogo do Louvre designa sob o nome de Parnaso, representa Apolo fazendo dançar as Musas ao som da lira, na presença de Ares, Afrodite e Eros colocados sobre uma elevação. No canto, Hermes empunhando um longo caduceu apóia-se sobre o cavalo Pégaso. Rafael, no célebre afresco do Vaticano, também coloca as Musas sob a presidência de Apolo, conforme à tradição, que as faz seguir o deus da lira. O próprio Apolo dança com as Musas, na famosa ronda das Musas, pintada por Jules Romain.
O lugar das Musas era naturalmente assinalado nos sarcófagos, assim como as máscaras de teatro que ali vemos freqüentemente esculpidas. A vida era considerada um papel que cada um desempenhava ao passar pela terra, e quando era bem desempenhado, conduzia à ilha dos Venturosos.
Todos esses velhos usos desapareceram pelo fim do império, e o papel civilizador que se atribuíra às Musas foi esquecido. Um dos últimos escritores pagãos, contemporâneo das invasões bárbaras, o historiador Zózimo, fala da destruição das imagens das Musas do Helicão, que haviam sido conservadas ainda na época de Constantino. “Então, diz ele, fez-se guerra às coisas santas, mas a destruição das Musas pelo fogo foi um presságio da ignorância em que o povo iria tombar.”
Dioniso, tão freqüentemente quanto Apolo, está representado conduzindo o coro das Musas, e até parece que acabou por ter mais importância em tal papel do que o deus de Delfos. A inspiração vem da ebriedade divina, e aliás Dioniso é o inventor do teatro. No coro das Musas, a declamação não podia deixar de ocupar o seu posto ao lado da invenção.
O magnífico túmulo conhecido pelo nome de Sarcófago das musas, no Louvre, foi descoberto no começo do século XVIII, a uma légua de Roma, na estrada de Óstia. O baixo-relevo principal representa as nove Musas, caracterizadas pelos seus atributos distintivos. Calíope, empunhando o cetro está em companhia de Homero e Erato conversa com Sócrates: eis o tema dos dois baixos-relevos que ornam as faces laterais. Na lousa, vê-se um festim dionisíaco, em alusão às alegrias da vida futura.”
Por Junito de Souza Brandão.
Mais um anjo subiu aos céus.
ResponderExcluirQue bélissíma matéria nesta maravilha de postagem do DON ,é duro mais uma perda "Jô " e agora Olivia mais Deus sabe de todas as coisas , R.I.P My friends.
ResponderExcluirEla lutou contra um câncer por 30 anos, Adarocker. Até que, finalmente, sucumbiu.
ExcluirNós conseguimos nos comunicar por vídeo e voz de qualquer parte do planeta para qualquer outra parte do mundo em tempo real, podemos criar robôs quase humanos, já estamos a ponto de pousar em Marte, mas não conseguimos acabar com esta maldita doença.
Mas ainda tenho esperanças de que, um dia, "câncer" seja lembrado apenas como um dos signos astrológicos... e nada mais.
Muito obrigado por comentar.
Abraços.
Sem querer ser chato mas você teria a versão não remasterizada e com tamanho normal (até 4GB)?
ResponderExcluirBoa tarde, Junculus.
ExcluirIsso não é ser chato. Você apenas fez um questionamento pertinente, dado o grande tamanho do arquivo.
Eu sempre costumo enviar estas postagens com uma opção de versão em tamanho menor, justamente para ajudar os amigos do site que tem internet lenta ou pouco espaço em disco. Infelizmente, eu não tenho mais este arquivo em tamanho menor, apagado junto à outros tantos durante a queda de vários servidores anos atrás.
Porém, estou fazendo um novo reencode e criando um arquivo com um tamanho um pouco menor para disponibilizar aqui como opção.
Acredito que consiga adicionar este arquivo em tamanho menor na postagem até amanhã, onde, então, poderá baixá-lo.
Por favor, aguarde.
Quanto à uma "versão não remasterizada", só se fosse um Bluray, DVD ou TV-Rip, pois, todas as vezes que modificamos qualquer coisa em um arquivo, geramos uma nova remasterização. E ainda teríamos dois problemas, pois arquivos de Blurays e DVDs são enormes em tamanho, enquanto TV-Rips tem baixa qualidade.
Uma remasterização não tem o objetivo de aumentar o tamanho de um arquivo. Ao contrário. Remasterizamos para adicionar, consertar ou melhorar áudios, vídeos, legendas, etc. aumentando significativamente a qualidade de um arquivo, ao mesmo tempo em que tentamos deixá-lo com o menor tamanho possível. Mas nem sempre conseguimos obter um resultado que abranja de maneira plena todos os objetivos da RMZ.
Abraços.
Cheguei a ter mais de 1600 filmes no meu HD a maioria baixados do teladecinema porém devido a uma formatação por engano acabei perdendo tudo. Hoje mantenho dois HDs de (6TB) com filmes e séries sendo 1 fica no computador e outro guardado no armário de casa.
ExcluirExcelente trabalho, Don Costa. Muito obrigado por compartilhar!
ResponderExcluirApenas um detalhe: eu tenho o audio 5.1 em português sem a falha de 24:26, se interessar, posso te enviar.
Boa tarde, Ricardo.
ExcluirTenho todo interesse sim.
Por favor, envie este áudio para doncosta10@gmail.com. Assim poderei completar o arquivo e, finalmente, fazer uma homenagem completa para esta atriz que nos deixou de maneira tão precoce.
Informe também, por favor, o nickname com o qual quer ser creditado. Seria Ricardo mesmo ou algum outro?
Muito obrigado pela sua contribuição.
Grande abraço.
relíquia.
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